Parte da minha vida foi envolta por um tema chamado “meios de pagamento”.
Conheci muita gente admirável, capaz de aceitar desafios que rondaram o impossível.
Aspectos de segurança da informação, prevenção à fraude, contingência, performance e modalidades de negócio são constantemente tratados com excelência.
Histórias ou estórias do nascedouro dos cartões de crédito, onde um cartão de visitas deu início à revolução, seguida por estratégias das bandeiras, credenciadoras, ambientes de captura, carteiras virtuais, entidades de padronização, softwares de controle, etc. inspiram todos os participantes.
Mas alguns espinhos vieram junto…
Não é trivial conviver com inúmeras soluções no Ponto de Venda para dar alternativa ao freguês. Também está cada vez mais difícil a escolha de operadores com suas precificações criativas. Para completar, haja fôlego para administrar o imbróglio financeiro e ter a certeza que tudo foi processado conforme contratado.
Do lado do usuário final, ou portadores, como são conhecidos no meio, não é simples memorizar inúmeras senhas e diferentes jornadas de aplicativos e regras de utilização não padronizadas.
Para completar, impressiona o trabalho hercúleo de todos os que estão por trás disso tudo. Desenvolvimento; venda; pós-venda; prevenção à fraude; monitoramento de qualidade; segurança da informação; nível de serviço; etc.
Ou seja, uma porção de “vitimas” – felizes por terem muito trabalho a fazer e preocupados por não saberem se esse trabalho realmente produz felicidade ou riqueza.
Que tal encarar a realidade?
O ponto de partida, ou “inovação” surgiu para atender pagamentos presenciais. Foi genial substituir os pagamentos em dinheiro, cheque ou “fiado” pelo pedaço de plástico e uma fatura mensal. Muito menos exposição para quem recebe e muito mais conveniente para quem paga.
Foi também uma “transformação” substituir as decalcadoras (também conhecidas por reco-reco, mata barata, e outros apelidos criativos) pelos tais POS (Point of Sale) lendo a tarja magnética. Foi o fim das consultas a listas de cartões impedidos e a drástica redução dos telefonemas para autorização manual de vendas.
Seguiu-se, então, a “evolução” e “automação”. Utilização dos cartões de crédito também para o débito; Integração dos sistemas de venda com soluções super criativas de TEFs (Transferência Eletrônica de Fundos); troca da tarja pelo chip; novas tecnologias de comunicação como NFC (Near Field Communication): solução de loja embarcada no POS; e outras tantas.
Não há dúvida. Foi um grande feito.
Mas o cenário começa a mudar no início dos anos 90. A internet se torna um valioso instrumento comercial e, com ela, o volume de transações não presenciais (presença do cliente para digitar a senha).
Alguns sábios concordam comigo que, quando o contexto muda, é melhor reunir os arquitetos e repensar.
O jeitinho parece custar pouco. Porém, o que não se paga à vista, será pago em parcelas infinitas e em montantes não conhecidos. Mas as contas precipitadas podem dizer que caiu o custo. Afirmo que não caiu – houve tanto ganho de escala que o custo da “adaptação” não incomodou.
Em 1997 colocamos o CVV (Card Verification Value) e continuamos impondo a nossa criatividade. OTPs (One Time Password), dupla verificação, novas técnicas de prevenção à fraude, e muitas outras medidas que coloco nesta categoria.
Estamos criando menos valor e trabalhando muito para não perder valores. A base instalada passa a ser um problema – somos capazes de reinventar, mas falta coragem, recursos e ânimo, mesmo sendo para impactar positivamente tantos envolvidos.
E a paisagem vai ficando ainda mais densa. Entra o PIX, as criptos, wallets, pagamento com recebíveis… Não parou e não vai parar.
Como consumidores da tecnologia de meios de pagamento, não cabe a nós promover a transformação do ecossistema. Porém, é nosso papel construir uma arquitetura desacoplada e uma jornada fluida em tempos de pagamento de contas.
Nas soluções em que estou envolvido, majoritariamente on-line e não presenciais, a proposta prevê a preservação dos investimentos através de segregação de funcionalidades e parametrização, assim como outros requerimentos arquitetônicos foram definidos, visando reduzir drasticamente os custos de desenvolvimento e aderência aos requisitos de segurança e prevenção a fraudes.
Entretanto, acho que chegou a hora das bandeiras, administradoras, operadores etc. tomarem a iniciativa de reorganizar tudo isso. Tem muita coisa acontecendo e os líderes correm o risco de se tornarem seguidores ou precipitarem remendos para a sobrevivência.
Finalizo com uma provocação: precisamos mesmo do plástico para identificar o portador? Precisamos mesmo da maquininha para ler o plástico? NFC, CVV e senhas são mesmo necessários?
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